A fibromialgia (FB) é uma síndrome clínica crônica que afeta cerca de 2,5% da população brasileira, com predomínio no sexo feminino e na faixa etária de 35 a 44 anos. É um distúrbio que gera impacto negativo na qualidade de vida dos pacientes, além de gerar elevados custos econômicos à saúde pública.
Sabe-se que as hipóteses mais atuais acerca da fisiopatologia da fibromialgia envolvem mecanismos centrais de modulação e amplificação da dor, o que pode desencadear tanto uma deficiência de neurotransmissores inibitórios em níveis espinhais ou supraespinhais (serotonina, encefalina e norepinefrina), quanto uma hiperatividade de neurotransmissores excitatórios, como substância P, glutamato e bradicinina.
O que diz a ciência sobre a fibromialgia?
Estudos sobre os fenômenos fisiopatológicos que envolvem a fibromialgia também indicam que esta condição pode ser considerada uma síndrome de sensibilidade central, ou seja, que apresenta relação com o processamento anormal da dor.
Com isso, tem crescido o número de estudos que demonstram evidências significativas sobre a presença de mecanismos fisiopatológicos inflamatórios envolvidos nesta síndrome de dor crônica, que afeta cérebro, medula espinhal e tecidos periféricos por meio da ativação do sistema imunológico inato e adaptativo, através da ativação de citocinas, quimiocinas, estresse oxidativo e neuropeptídeos.
Em consonância, também é sabido que o estado emocional e o estresse psicológico podem estimular a inflamação neurogênica, contribuindo ainda mais para a sintomatologia do quadro álgico.

Mecanismos fisiopatológicos e tratamentos da fibromialgia
Os mecanismos fisiopatológicos ligados à FB podem ser resumidos em: fatores genéticos, processos neurais, neuroinflamação e estresse oxidativo.
A partir de tais mecanismos, os tratamentos usualmente mais propostos são os recursos não farmacológicos (terapia cognitiva não comportamental, exercício físico, Qigong, tai-chi, ioga e educação do paciente), recursos farmacológicos (medicamentos como amitriptilina, ciclobenzaprina, duloxetina, pregabalina entre outros) e recursos complementares.
As terapias farmacológicas representam, portanto, um dos pilares no tratamento dos sintomas da fibromialgia. Diversos medicamentos, como analgésicos, antidepressivos e anticonvulsivantes, mostraram eficácia na atenuação da dor e na melhoria do bem-estar geral.
Essas abordagens farmacêuticas frequentemente visam a desregulação de neurotransmissores e vias neuroquímicas implicadas na fisiopatologia da fibromialgia.
A importância do sono
Em relação ao desenvolvimento da fibromialgia, sabe-se que a disfunção do sono pode ser uma das causas precipitantes. Observou-se que, distúrbios do ciclo sono-vigília afetam o processamento da dor e, dessa forma, reduzem a sua modulação descendente.
Esta informação atesta, portanto, que a boa qualidade do sono tem implicação direta na melhora da sintomatologia característica da síndrome da dor miofascial difusa.
Nesta perspectiva, algumas das estratégias de enfrentamento da fibromialgia envolvem a melhoria da qualidade do sono, tendo sido identificado um bom perfil de aceitação com o uso de ciclobenzaprina e de agonistas do receptor de melatonina. Tais medicações mostraram-se promissoras na melhoria do sono e, consequentemente, nos sintomas da fibromialgia.
Nutrientes que podem auxiliar o tratamento para fibromialgia
É crescente o consenso nas pesquisas que uma abordagem multidisciplinar pode contribuir para a melhora do quadro e da qualidade de vida dos pacientes. Assim, a adesão à suplementação poderia evitar uma “supermedicação” e também diminuir os custos com terapias mais onerosas com efeitos colaterais mais evidentes.
Coenzima Q10
Um exemplo de suplementação é a coenzima Q10 (CoQ10), uma substância presente em todas as membranas de todas as células do corpo, que transfere elétrons dos complexos I e II para o complexo III na cadeia respiratória mitocondrial e cumpre um papel essencial na produção de ATP mitocondrial, influenciando o metabolismo celular.
Estudos demonstraram que o estresse oxidativo está presente na fibromialgia e que a CoQ10 pode exercer um papel fundamental neste quadro, melhorando a função mitocondrial e, consequentemente, o metabolismo celular.
Além disso, pesquisas relataram que a CoQ10, associada à pregabalina, reduziu mais efetivamente a dor, ansiedade e atividade cerebral, estresse oxidativo mitocondrial e inflamação do que a administração isolada da pregabalina. A CoQ10 também aumentou os níveis reduzidos de glutationa e os níveis de superóxido dismutase (SOD).
Pirroloquinolina Quinona
Por sua vez, a pirroloquinolina quinona (PQQ), um excelente antioxidante, 100 vezes mais potente que a vitamina C, possui também capacidade de proteger as mitocôndrias. Assim, pode-se inferir que o PQQ, associado à CoQ10, pode desempenhar uma suplementação ainda mais eficaz para os portadores de fibromialgia.
Vitamina D
É relevante citar também o papel da suplementação com vitamina D em pacientes com fibromialgia. A atrofia muscular, particularmente de fibras do tipo II, tem sido descrita histopatologicamente na deficiência de vitamina D, cujos metabólitos afetam o metabolismo das células musculares por três vias principais: a) mediando a transcrição de genes; b) por vias rápidas que não envolvem síntese de DNA; e c) pela variante alélica do receptor de vitamina D (VDR).
A suplementação com vitamina D induz mudanças rápidas no metabolismo das células musculares, que não podem ser explicadas por um lento caminho genético. Isso é possível através da ação do VDR atuando diretamente na membrana da célula muscular.
Na ligação, várias vias secundárias do mensageiro são ativadas, resultando em aumento da captação de cálcio (em minutos), tanto pelos canais de cálcio dependentes da voltagem, quanto pelos canais de cálcio ativados pela liberação de cálcio.
A força muscular também parece ser influenciada pelo genótipo do VDR na célula muscular e com o uso de endonucleases de restrição específicas. Estudos recentes demonstram que não há consenso sobre a relação entre FB e vitamina D, em particular a relação causa-efeito.
No entanto, o tratamento com vitamina D demonstrou ser eficaz na melhoria de certos sintomas da FB, como a percepção da dor e a hipersensibilidade musculo esquelética. Ainda, existem evidências que, em pacientes com FB com redução dos níveis séricos de vitamina D, uma combinação de suplementos desta vitamina e um antidepressivo convencional, como a trazodona, pode melhorar significativamente os sintomas físicos e psicológicos dos pacientes afetados.
Suplementação como possível estratégia para fibromialgia
Assim, a suplementação nutracêutica vem se constituindo uma alternativa válida para o tratamento da FB. Podendo contribuir com a melhora do quadro de dor e suas repercussões psíquicas e comportamentais. Substâncias como a CoQ10 e a vitamina D, bem como probióticos e alguns fitoterápicos destacaram-se como elementos que, juntamente com as terapias tradicionais, atividade física e abordagens corpo-mente, podem contribuir com a melhora da qualidade de vida dos portadores de FB.
Referências
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