Quando estamos expostos ao frio, especialmente em ambientes abaixo dos 18°C, nosso corpo trabalha mais para manter sua temperatura interna estável. Esse processo, conhecido como termogênese, aumenta o gasto energético e estimula o tecido adiposo marrom – uma forma de gordura que ajuda a gerar calor e manter a temperatura corporal. Com o aumento do gasto energético, nosso corpo sinaliza a necessidade de mais “combustível”, resultando em uma maior sensação de fome. Esse é um mecanismo natural de sobrevivência, no qual o corpo busca equilibrar o consumo energético com a demanda aumentada. Mas será que faz sentido falar em compulsão alimentar?
O que acontece com o corpo no inverno?
Além dos fatores fisiológicos, o comportamento humano também pode mudar no inverno, uma vez que a menor exposição à luz solar durante os dias mais curtos desta estação também pode afetar os níveis de serotonina – um neurotransmissor que regula o humor e o apetite.
A serotonina aumenta a sensação de saciedade ao se ligar em receptores específicos em regiões cerebrais responsáveis pelo controle do apetite, resultando na redução da liberação do neuropeptídeo Y – um composto que estimula o apetite.
Dessa forma, baixos níveis de serotonina podem levar a um aumento do apetite e a uma preferência maior por alimentos ricos em carboidratos e açúcares. Além disso, a serotonina está fortemente relacionada à regulação do humor.
Assim, baixos níveis desse neurotransmissor estão associados à depressão e à ansiedade – condições que podem afetar o comportamento e alterar os padrões de alimentação, como uma forma de compensação emocional.
Portanto, entender as razões por trás do aumento do apetite no inverno pode nos ajudar a tomar decisões mais conscientes sobre a alimentação e estilo de vida.
Já foi documentada, por exemplo, a condição conhecida como “Perturbação Afetiva Sazonal”, uma doença multifatorial, que combina alterações biológicas e do humor, com um padrão sazonal que ocorre tipicamente no Outono e no Inverno, com remissão completa na Primavera ou Verão, mas que pode ocorrer em outras épocas do ano.
Nesse sentido, os episódios depressivos que podem ocorrer em um padrão sazonal caracterizam-se frequentemente por diminuição da energia, hipersonia, hiperfagia, aumento de peso e avidez por carboidratos.
O que é possível fazer para lidar com a compulsão alimentar, então?
Uma das estratégias que podem ser aplicadas, no manejo da ansiedade e compulsão alimentar, é a suplementação utilizando nutrientes específicos como triptofano, ômega 3, magnésio, vitaminas do complexo B, vitamina C, vitamina A, entre outros, através da sintetização de serotonina, noradrenalina e dopamina, que proporcionam sensação de bem-estar.
O L-triptofano (TRP) é um aminoácido essencial aromático, cuja principal função é ser precursor do neurotransmissor de serotonina ou 5-hidroxitriptamina (5-HT). Segundo estudos publicados, 84% da população americana apresenta desequilíbrio dos neurotransmissores e 70% apresenta deficiência de 5-HT.
Nesse sentido, há relatos que o TRP é eficaz no tratamento de ansiedade alimentar com excesso de consumo de alimentos. Este aminoácido parece ser controlador útil do humor e capaz de suprimir desejos de alimentos, álcool e anfetamina.
Além disso, o 5-Hidroxitriptofano, o metabólito do TRP, mostrou sua eficácia clínica como percursor de serotonina e consequentemente, produtor dos efeitos benéficos deste neurotransmissor.
Por fim, o cromo, um mineral essencial, tem como principal função aumentar a tolerância à glicose no metabolismo celular. Em sua forma de picolinato, o cromo pode atuar na redução da resistência insulínica e, consequentemente, redução da apetência por carboidratos refinados e até atenuando casos de compulsão alimentar.
Referências
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DE OLIVEIRA FERRARINI, Natália et al. Alternativas terapêuticas farmacológicas para transtorno da compulsão alimentar: uma revisão sistemática. Debates em Psiquiatria, v. 13, p. 1-15, 2023. Disponível em: https://revistardp.org.br/revista/article/view/438
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